Claro de Luna

sábado, 19 de julho de 2008

Nostalgia


Resta aos tolos embriagar-se da vida
Em profundos goles gélidos de asneiras,
Balbuciar perspectivas a frivolidade cega dos corpos
E brindar a falta de bom censo e egocentrismo
Que abita em cada cúpula humana.
Perder o que se chama de sentido
Na pregação divergente do estampido
Que cegou a humanidade inteira.
Ouvem-se os sinos dos calabouços e ninguém se lamenta,
Quando um anjo se parte.

Inconstância


Engasguei-me com o silêncio,
Pigarreei escárnios constantes,
Devotei amor às estalactites de minhas lagrimas.
Prostei-me ao espelho,
Sem reflexo moribundo de meus dias
Ou a face anciã de meus medos.
Conjurei em turbilhões de nostalgia
A fada morta dos anseios.
Reli minhas historias, minha dores, meus amores, muitos segredos
E nada me comportou a serenidade dos mortos.
Procuro algo que não consta nos ficheiros,
(o espelho me acusa de descaso.)
Sou a sentença viva
De que algo pode ser completamente triste
Nem uma palavra ou gesto me consola,
Bóia e afunda no mar do holocausto.
Nada que escrevo significa algo,
Se não o prelúdio da morte
Que sentencia aos poucos meus dias
Em uma contagem regressiva aterradora...
...nos poucos dias que vivi,
Nunca houve brilho algum em meus olhos.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Não Houve


Não houve lembrança alguma,
Quando deram lhe a noticia de que havia partido
E minhas ultimas palavras foram por teu nome.
Não houve lagrimas.
Supôs tristeza,
E na primeira primavera esqueceu-me por completo.
Não houve o claro abril celeste
E suas manhãs arcaicas,
Onde me impregnava de esperança
Trazendo-me alvoradas festivas de dois corpos.
Trancou-me junto às vestimentas,
Os quadros a dois e meus utensílios
Em um armário qualquer pela casa.
Secou minhas lagrimas por todo o chão
Com descaso,
Varreu dos cantos meus risos
Sem nem um cuidado,
Abafou meus segredos com uma musica qualquer,
Afastando minha presença de seus dias.
Foste ao jardim das auroras com outros olhos,
Ateando fogo no local que cultivei
O amor de meu pensamento.
(um velório ameno, para uma vida de desconforto.).
O que mais perturba minha alma
Não é ter me extinguido
E definhado por causas vãs.
Minha perturbação é não ter percebido
Que mais do que eu foi sepultado
Nas terras frias padecentes.

domingo, 6 de julho de 2008

Últimos Versos


Não venho aqui exaltar as dores,
Essas falam por si.
Venho dizer as ultimas palavras
Há quem um dia me devotei em amor.
Rompi o selo do peito,
Abortei-me da vida
Em um singelo gesto harmonioso de dor.
Brandei minha alma torturada
No véu dos sonhos finitos.
Desagüei-me nesses últimos versos,
Pois nada me resta a temer,
Se não pelo vazio dos ossos
Que murmurarão meus segredos aos vermes.
Entreguei-me a exaustão que tudo finda, selando-me.
Não chore por mim,
Quem me reza tão distante.
Nessa hora o musgo selará minhas pálpebras,
A vertiginosa espuma tomará minha boca sem anseio
E meu corpo se resumira em um silêncio profundo e traiçoeiro.
Venho dizer ao meu amor (mesmo que seja pequeno),
Que podes descansar em meu peito
Que nada mais nos aflige,
O poço onde brotam as lagrimas secou,
Os túmulos estão selados
E os fantasmas se foram
Levando-me consigo.
Repousa em meus ossos
Os sentimentos humildes que nunca escrevi,
Não é necessário temer-me mais
Pois a carruagem dos mortos
Atropelou-me a vida
Libertando-me do cárcere em que me encontrava.
Não venho exaltar dor alguma
Essas por si só já me tomaram mais que o tempo.
Vim dizer apenas ao meu amor que não chores,
Pois repouso na eternidade de seus sentimentos.

Antonio Soares

terça-feira, 1 de julho de 2008

Quando...


Quando o homem se dá por vencido,
Pelos cansaços e sacrifícios da vida,
E sobre chuvas torrentes,
De dificuldade ele persiste...
Quando tudo parece trevas
E em quase todos se vê
Um porto de adeus...
Quando se olha o pouco que se tem
E a resignação nos olhos emite,
Os sorrisos entre lábios mostram,
O quanto à falsidade é triste...
Quando o sacrifício é grande
E o reconhecimento é pequeno,
Ser um fantasma triste,
Faz-te entrar no enredo,
E todos te lembram:
-É crime nesse mundo sofrer de menos.
Quando não se cabe saber,
Por negar, por querer,
A verdadeira realidade...
E se ver em estatísticas absurdas.
Que não é a luta, é a vontade de vencer ,
Que vence.
Quando tudo que se acredita,
Faz peso para os ombros...
E á vida parece ser mais fácil,
Quando se tem um carcereiro...
Quando se quer chorar,
E a vontade é mais fraca que a dor
A certeza é resumida em poucas palavras,
Se não por elas,
Vela-se nos olhos o segredo em rancor.
Quando a luz que nasce,
No corpo não bate...
E os sonhos renascem,
Em uma luta enganosa...
...são tristes as marcas de antigas derrotas.
Quando se põem tudo que ao corpo pertence
Ate o ultimo esforço,
É difícil acreditar que toda essa luta,
Foi um grande e desnecessário alvoroço.
E quando a alma vencer esse mundo,
Fugindo desse corpo... No fim dessa trilha...
Se não for por esse momento,
Haverá pelo menos...
Um sorriso de consolo.

segunda-feira, 30 de junho de 2008


Está frio e nada escrevo...
Afasta-se de mim os rascunhos, o que vejo.
A caneta treme sobre minhas mãos penosas
Enquanto minha alma é anfitriã
Dos fantasmas que me assombram...
(não me dou satisfeito por nada,
(Pois tudo o que possuo eu os perco.)
Quebrei meus braços nos sonhos,
Quebrei meus sonhos com as mãos,
É curto meu espaçamento de dia,
Às vezes quando encontro o desespero
É buscando o que um dia foi eu
(nunca encontrei se quer vestígios,
(De um dia de satisfação.).
Nada escrevo...
Nada...
As folhas se negam a aceitar meu nome,
Torno-me a tragédia da vez,
Minha alma é tão rala
Que não sei se morrei.
(por muitas vezes tive amor,
(Por muitas outras o reneguei.).
Se procuro alguém nunca o encontro,
A inconstância de minhas horas é suprema
Assim como meus dias são nulos.
Nas dores que minha carne estúpida,
Nos gritos que minha alma acalenta,
Punge no vento fraco que beija meu rosto
Algo que minha alma não se lembra...

domingo, 29 de junho de 2008

Deriva


Assoprei minhas alegrias
No mar da piedade,
O mar me trouxe ondas fracas
Onde me acenava à saudade.

Dentro de mim onde sempre assoprei
Nunca vi minha verdade,
Somente o lamento das ondas
Que me avisavam a tempestade.

Navega alegrias, navega
Que eu lhes dou minha vontade,
Busca-me dentro de mim
Pois em tu repousa: Esperança e liberdade.

É tão profundo alegrias
Esse mar em que entreguei,
Todos os mares do mundo o invejariam
Se soubessem onde o encarnei.

Chorei tanto alegrias... Tanto!
Quando percebi,
Minha alma já se encontrava boiando,
E eu displicente, nunca aprendi a nadar.

(às vezes quando o mar transborda,
São meus olhos o dilúvio.).

Vejo-te alegrias tão longe
Que nem tem forças para prosseguir,
Pesa sobre tu minhas desventuras
E tudo que não consegui.

Não lute alegrias,
As mãos de minhas tristezas são mais tenebrosas.
Afunda alegria, afunda...
Que eu não sei nadar.