Claro de Luna

sábado, 16 de agosto de 2008

Desenlace


E se ela indagar-me de sua ausência?
Apontarei a ela a sala e os milhares de livros que reli,
Maiakovski, Cecília Meireles, Augusto dos Anjos, Franz Kafka
Todos entediados de minha leitura lacrimosa e do compadecimento desmedido de meu ser.
Mostrarei essa urna embalsamada
Das horas mortas, das noites sem fim
Do moribundo pranto.

E se ela indagar-me se senti sua falta?
Conduzi-la-ei por toda a casa vazia
Mostrando-a o silencio em que submeti
O amor de nossos dias, pela casta temporada de sua ausência e do sangue nas veias transformado em cafeína
Pelo longo tempo de insônia convertida.

E se ela indagar-me de seu ressurgimento?
Direi a ela que é tardia a sua cura
Pois endoidei-me na bula dos remédios vencidos,
Montanhas de calmantes, soníferos e seus precedentes,
Psiquiatras, psicanalistas em busca do segredo de meu miserável enigma.

E se ela indagar-me como foram meus dias?
Abrirei meu caderno e suas folhas vazias,
O lustre apagado, as velas sem vida
A mesa posta com um único prato...
Minhas rezas silenciosas perante o mortuário de mármore.
Meu costume cotidiano de um pensamento apenas...
Vênus...deusa do que resta do amor


E se ela indagar-me por que não voltamos?
...Sorrirei a ela escondendo meu pranto.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Alone


Foi na conturbação dos dias que exalei de sua essência
E compassei-me em ser sua sombra em um amor profundo.
Tantas lagrimas tombarão pelo fim sem um começo
Ao qual lhe entreguei segredos, juras, promessas...
Por quantas vezes contamos estrelas juntos
Traçando caminhos entre os cometas
Em nosso amor singelo e puro.
Foi-se o enredo quando disse que partiria,
Levando consigo o melhor de meus dias...
Uma casa vazia...
Um quarto ameno...
Uma peça de roupa esquecida no varal
(justo a que presenteei-lhe no dia do nosso aniversário).
Minhas despedidas se tornaram maiores que as madrugadas
As quais me pego sentindo seu corpo febril em meu lascivo leito.
(A solidão de minhas palavras engoliu todos os meus momentos.)
Nossos retratos me condenam
Pelo vazio dos artifícios e o sorriso temporão
Quando olhos o pó nos moveis desertos.
Todas as noites quando me deito
Escuto sua voz por toda a casa,
A madrugada me desperta e procuro-te
Entre as gélidas montanhas dos lençóis
Mas somente seu retrato na cabeceira é o consolo
E o relato de um amor que um dia viveu.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Libido


Ela... fera sedutora,
De garras e olhares incandescentes...
Ela... pecadora confessa,
A Personificação da libertinagem.
Ela... sedutora sem preâmbulos.
Fêmea, tormento, faminta...

Ela... a inquisição do meu leito,
Na escuridão do desejo.
Ela... palpável volúpia,
Que delicia as entranhas.
Toca o ego, modifica, contrasta,
Perturba o anseio...

Ela... desafia os medos no engenho maligno mundano.
Ela... clama e inflama a derme oculta,
A frágil face interna de minhas buscas,
Ela... dissolve-se nos braços,
Umedece os lábios, convidativa e sensual,
Em sua profana luxúria.

Ela... sua inconstância no amor fadado,
É o cativeiro de quem a permite,
Toma tudo para si...
Em gestos discretos e graciosos...
Incendiando o corpo,
Com um olhar enigmático e tentador.

Ela... manipuladora de sentimentos,
Condutora de pensamentos.
Acelera a pulsação,
Um corpo trêmulo,
Uma alma exaltada,
O controle em suas mãos.

Ela... busca tudo, na procura da carne,
Ardente impulso.
Reanima quem já definha,
Vicia quem já a tem.
Flamejante, quente, febril e latente.
Aguça os sentidos, o paladar, o faro...
Libido, Libido, Libido...

Autores: Princesa Lara(Andréia Gomes) e O Aprendiz(Antônio Soares)

sábado, 19 de julho de 2008

Nostalgia


Resta aos tolos embriagar-se da vida
Em profundos goles gélidos de asneiras,
Balbuciar perspectivas a frivolidade cega dos corpos
E brindar a falta de bom censo e egocentrismo
Que abita em cada cúpula humana.
Perder o que se chama de sentido
Na pregação divergente do estampido
Que cegou a humanidade inteira.
Ouvem-se os sinos dos calabouços e ninguém se lamenta,
Quando um anjo se parte.

Inconstância


Engasguei-me com o silêncio,
Pigarreei escárnios constantes,
Devotei amor às estalactites de minhas lagrimas.
Prostei-me ao espelho,
Sem reflexo moribundo de meus dias
Ou a face anciã de meus medos.
Conjurei em turbilhões de nostalgia
A fada morta dos anseios.
Reli minhas historias, minha dores, meus amores, muitos segredos
E nada me comportou a serenidade dos mortos.
Procuro algo que não consta nos ficheiros,
(o espelho me acusa de descaso.)
Sou a sentença viva
De que algo pode ser completamente triste
Nem uma palavra ou gesto me consola,
Bóia e afunda no mar do holocausto.
Nada que escrevo significa algo,
Se não o prelúdio da morte
Que sentencia aos poucos meus dias
Em uma contagem regressiva aterradora...
...nos poucos dias que vivi,
Nunca houve brilho algum em meus olhos.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Não Houve


Não houve lembrança alguma,
Quando deram lhe a noticia de que havia partido
E minhas ultimas palavras foram por teu nome.
Não houve lagrimas.
Supôs tristeza,
E na primeira primavera esqueceu-me por completo.
Não houve o claro abril celeste
E suas manhãs arcaicas,
Onde me impregnava de esperança
Trazendo-me alvoradas festivas de dois corpos.
Trancou-me junto às vestimentas,
Os quadros a dois e meus utensílios
Em um armário qualquer pela casa.
Secou minhas lagrimas por todo o chão
Com descaso,
Varreu dos cantos meus risos
Sem nem um cuidado,
Abafou meus segredos com uma musica qualquer,
Afastando minha presença de seus dias.
Foste ao jardim das auroras com outros olhos,
Ateando fogo no local que cultivei
O amor de meu pensamento.
(um velório ameno, para uma vida de desconforto.).
O que mais perturba minha alma
Não é ter me extinguido
E definhado por causas vãs.
Minha perturbação é não ter percebido
Que mais do que eu foi sepultado
Nas terras frias padecentes.

domingo, 6 de julho de 2008

Últimos Versos


Não venho aqui exaltar as dores,
Essas falam por si.
Venho dizer as ultimas palavras
Há quem um dia me devotei em amor.
Rompi o selo do peito,
Abortei-me da vida
Em um singelo gesto harmonioso de dor.
Brandei minha alma torturada
No véu dos sonhos finitos.
Desagüei-me nesses últimos versos,
Pois nada me resta a temer,
Se não pelo vazio dos ossos
Que murmurarão meus segredos aos vermes.
Entreguei-me a exaustão que tudo finda, selando-me.
Não chore por mim,
Quem me reza tão distante.
Nessa hora o musgo selará minhas pálpebras,
A vertiginosa espuma tomará minha boca sem anseio
E meu corpo se resumira em um silêncio profundo e traiçoeiro.
Venho dizer ao meu amor (mesmo que seja pequeno),
Que podes descansar em meu peito
Que nada mais nos aflige,
O poço onde brotam as lagrimas secou,
Os túmulos estão selados
E os fantasmas se foram
Levando-me consigo.
Repousa em meus ossos
Os sentimentos humildes que nunca escrevi,
Não é necessário temer-me mais
Pois a carruagem dos mortos
Atropelou-me a vida
Libertando-me do cárcere em que me encontrava.
Não venho exaltar dor alguma
Essas por si só já me tomaram mais que o tempo.
Vim dizer apenas ao meu amor que não chores,
Pois repouso na eternidade de seus sentimentos.

Antonio Soares